A banalização da buzina

Estava descendo uma rua dos Higienópolis e os carros estavam todos parados. Não dava pra ver o que estava segurando o trânsito, mas os motoristas, alucinados, buzinavam sem parar, punham a cabeça pra fora e gritavam contra um mal invisível (depois de alguns minutos andando eu vi que era o caminhão recolhendo o lixo [deles] ). Enquanto isso eu ia gritando: "Chupa, carrocracia! Olha eu aqui andando a pé mais rápido do que vocês! Chupa, Higienópolis, FHC!" Mas isso só mentalmente. Fiquei tão compenetrada rindo dos nervosinhos que passei pela padaria onde eu queria parar pra comprar um quiche e nem vi. Fiquei com preguiça de voltar, afinal era subida e eu estava a pé. Fui embora sem quiche. Entrando no metrô, uma senhorinha, distraída que nem eu, foi virar e deu com a bengala na minha perna. Ela pediu mil desculpas e eu só sorri e falei que não tinha sido nada, afinal eu faria a mesma coisa se andasse por aí armada de uma bengala (um dia eu comprei uma tábua de passar e peguei o metrô com ela e foi um desastre anunciado). Depois disso, já no trem, um cara foi virar e me deu uma cotovelada no peito. Ele pediu mil desculpas e eu queria falar que estava tudo bem, afinal eu faço isso o tempo inteiro com as pessoas por motivos de andar por aí armada de dois cotovelos e pouca atenção mas não deu porque eu estava sem ar. No final o que ficou foi o pressentimento de que de que eu estava sendo castigada por ficar andando por aí rindo dosotros, mas o saldo acho que ainda foi positivo, então eu vou continuar rindo, sim. Beijos.

Nenhum comentário: