Drama Porn

Em prol do humor e do entretenimento de qualidade, eu escrevo uma quantidade colossal de coisas totalmente sem pé nem cabeça que nunca aconteceram ou que são um grandissíssimo exagero do que de fato aconteceu. Alguns exemplos:
  • Cometendo crimes com Errorex, que tem gente que chama de "liquid paper". (Nenhum crime foi cometido.)
  • Derrubei um ventilador no pé. Houve corte, sangue e ranger de dentes. (Foi só um cortezinho de nada.)
  • Salada de rúcula com uva passa. Me dá um tiro logo de uma vez. (A salada de rúcula era real, mas não acho que seja caso de tiro.)
  • Ontem me envolvi com mail fraud. (Eu só li as cartinhas que as crianças do prédio deixaram pro Papai Noel, o que eu tenho certeza que não configura fraude postal.)
  • Parcelei em quatro vezes um cheesecake que eu pedi sem perguntar o preço e no final custava R$ 18,50 o pedaço. (Infelizmente o parcelamento não era uma opção.)
  • Eu vou pegar os limões que a vida tá me dando, espremer e jogar na cara do primeiro infeliz que me encher o saco a partir de hoje. (Não vou jogar nada na cara de ninguém, embora dê vontade.)
  • É possível usar isqueiro sem queimar o dedo? (Às vezes eu consigo, sim.)
  • Vcs têm muito bom gosto musical. Parabéns a todos. (Mentira deslavada. Eu só não aguentava mais ver aquelas listas das mais ouvidas do ano de cada um.)
  • Eu queria ter maturidade pra olhar o vídeo do Mamãe Falei tomando uns tabefe e dizer "nossa, que lastimável", mas eu tô só vendo esse vídeo repetidamente e gargalhando. (Zero vontade de ter mais maturidade. Inclusive me divirto horrores nesse nível que acho que é o ideal.)
  • Tô tentando entender a cabeça da pessoa que vai construir uma casa e pensa: "quero umas colunas gregas na frente". (Mentira. Eu só olho e penso: Que coisa cafona. Quem foi o otário que construiu isso?)
  • CCXP é aquele evento que os jovens acampam do lado de dentro e mexem no computador? (Eu sei muito bem a diferença entre CCXP e Campus Party, mas adoro deixar nerd irritadinho.)
  • Tenho vontade de dar com um patinete na cabeça dos patineteiros na ciclovia? Claro que não. De onde vcs tiraram isso? (Sou contra a violência, taoquei?)
  • Vi uma motinha tipo uma Biz na ciclovia. Barbarizou geral já. Não sou contra a PM mais; pode chamar. (Continuo muito contra.)
  • Eu gostaria de ser flamenguista nesse momento pra participar dessa alegria. (Mentira, nem de futebol eu gosto.)
  • Hoje resolvi andar de bicicleta na ciclovia da Faria Lima em vez de na da Paulista e redescobri coisas que eu nem lembrava que existiam nessa cidade, tipo shopping Iguatemi. (Infelizmente eu lembrava, sim.)
Coisas que eu falei nos últimos tempos e que de fato eram verdade:
  • Simplesmente exausta demais de estar deprimida.
  • A data de ontem foi um belo palíndromo. Tal qual o meu dia, que igualmente poderia ser visto de frente pra trás, de trás pra frente, pois apenas uma grande sequência de mim deitada sofrendo olhando pro vazio - que bem representa o meu vazio existencial. 
  • A vontade de desistir é grande, mas a de desistir é maior.
  • Sentada descalça no tapete da recepção do consultório da psiquiatra "porque eu fico mais calma sentada no chão". 
  • O cancelamento de pessoas é real e pode te machucar.
  • Uma das piores manifestações da ansiedade é a sensação de que vc engoliu um pequeno caminhão que incessantemente faz um trajeto que começa no esôfago e acaba no estômago, sempre dando uma atolada na região do coração e dos pulmões. Depois ele volta de ré. E assim vai o dia todo. O esôfago parece constantemente obstruído por um bolo seco que vc não consegue engolir; o coração, soterrado sob uma pedra que pesa toneladas; as veias e artérias, esmagadas e o ar chegando rarefeito aos pulmões; o estômago revira como se abrigasse um polvo hiperativo lá dentro.
  • Agora que eu entendi o paradoxo do Gato de Schrödinger, eu gostaria de dizer que estou simultaneamente viva e morta por dentro. 
  • Minha psiquiatra me mandou um áudio falando que achava que eu deveria passar numa consulta amanhã porque tem dois feriados pela frente e ela tava preocupada comigo e eu: "Ques feriados?"
  • Se vc deitar embaixo do chuveiro, encostar uma orelha no chão e deixar a água caindo na outra, vc ouve um som que parece o barulho do mar. Fica a sugestão pra quem gostaria de estar na praia agora e não pode. Parece uma injeção de ânimo. 
  • Vcs já experimentaram ter ataque de pânico em público? É muito bom pra quando vc tá carente: vários desconhecidos vêm te abraçar, pessoas te passam o telefone… Recomendo!
  • Alegre e com crise de ansiedade concomitantemente.
  • Três comprimidos de Valium num dia. O efeito foi o mesmo de três chás fortes de camomila e borrifadas ocasionais de floral de Bach Rescue.
  • Chorando no banquinho do parquinho das criança depois de uma consulta com a futura hipnoterapeuta e certamente futura analista pois apaixonada por essa mulher.
  • A vida é uma sequência de coisas pra dar risada intercaladas com motivos pra chorar. Às vezes o motivo pra chorar é apenas existir.
  • Nível de estabilidade emocional: passando gelo nas artérias e Pomada Elétrica do Pagé.
  • Saindo da terapia às onze da noite.
  • Hoje eu fiz acupuntura, quiropraxia, terapia, tomei um coquetel de comprimidos e agora tô me sentindo como se tivesse sido apenas parcialmente atropelada por um caminhão.
Reação da maioria das pessoas ao meu humor autodepreciativo a respeito dos meus transtornos psiquiátricos:
  • Silêncio. 
  • Nada. 
  • Absolutamente nada. 
Eu resolvo escrever um MINIconto sobre gaslighting. 

Reação dessas mesmas pessoas:

– Preciso imediatamente saber se isso é verdade. 
– Deixa eu importunar dezessete pessoas pra discutir esse assunto. 
– E se eu envolvesse a Interpol, o Papa, o Secretário-geral da ONU, a Petra Costa, a Abim?
– Será que é verdade?

Prioridades, não?

Pois saibam que eu nunca publicaria uma coisa pra atrapalhar a vida de uma pessoa que eu amo. 

Eu sei que vocês gostam de drama porn, mas infelizmente não tá tendo. 

Beijos

Marriage Story

Priest:
– In sickness and in health.
Groom:
– In sickness and in health.
Priest:
– For betther or for worse.
Groom:
– For betther or for worse.

The worst comes.

Husband:
– Oh, that's too worse. I didn't think it could get this bad. I'm out, sorry.
Wife:
– Bu…
Husband, closing the exit door:
– I want you to be happy, though.

Texto

Um texto é preciso parir
Que um texto parido
É um punhal a menos
No peito fincado

Caixas

Será que jamais seremos
mais do que conteúdo fundido com caixas
que foram colocadas em volta de nós
e etiquetadas?

Praga de morte

Sempre que uma figura controversa - políticos em especial - tem um problema de saúde, reacende-se o debate de se é ou não de bom tom almejar a morte de uma pessoa. Com frequência a conclusão a que se chega é a de que a praga é bem-vinda, sim, se o indivíduo em questão pertencer a um espectro político diferente do seu; caso contrário, isto é, se você e o enfermo compartilharem de opiniões semelhantes, lançar uma maldição dessas é sinônimo de mau-caratismo grave.

Ignorando a opinião pública a esse respeito, tento, na minha - admito - quase sempre frustrada pretensão de me tornar uma pessoa melhor, evitar desejar a morte de alguém - ou o mal dos seres humanos em geral - principalmente em voz alta. Nem sempre dá. Mas o difícil mesmo de se prevenir, quando se trata de algumas pessoas mais abjetas, é o pensamento: "Se morrer, não vai fazer falta nenhuma."

A propósito, mas nada a ver com isso, vocês viram que o Temer foi parar no hospital ontem?

Bipolaridade sobre rodas

Andando de bicicleta na descida:
Nossa, sente esse ventinho gostoso!
Adoro bicicleta!
Que ar puro!
Vamos plantar uma árvore!
Ainda bem que pintaram essas ciclovias, né?
Quero ir pra todo lado de bicicleta agora!
Minha perna vai ficar muito malhada!
Haddad maior ex-prefeito que você respeita!
Amsterdam é linda, né?
Acho que vou participar do próximo Tour de France!
La vie est belle!
Chupa, carrocracia!

Andando de bicicleta na subida:
Quem que inventou essa máquina dos infernos?
Minha bunda tá doendo!
Chama um Uber!
Aquecimento global é uma farsa!
Vamos comprar um carro!
Só tem maconheiro em Amsterdam!
Fazer esporte estraga o joelho!
Se o Dória quiser tirar todas as ciclovias e colocar esculturas do Romero Britto no lugar, eu não tô nem aí!
Nunca mais ando de bicicleta na vida!
Acho que engoli um mosquito!
Vamos mudar pra uma planície, pelo amor de Deus!

Guarda-chuva de bolinhas

Andar a pé numa cidade movida pela cultura do carro, seja por escolha ou falta de opção, é sempre um ato de coragem. A maioria dos motoristas não tem o menor respeito pelos pedestres. O tempo todo avançam em pessoas que estão atravessando na faixa, por exemplo. Hoje, pela milésima vez, aconteceu isso comigo. Nenhum carro vindo, começo a atravessar a rua [na faixa]. De repente vem um carro em alta velocidade, certamente acima do permitido, e quase me atropela. Freou a poucos centímetros de mim. Meu coração parou. Nessas situações eu geralmente xingo e depois vou embora quase chorando, inconformada com o fato de que idiotas motorizados dominam a cidade. Mas não hoje. Hoje eu parei, fechei o meu guarda-chuva e dei com tudo no carro. Aí eu tomei distância, me posicionei melhor e sentei o guarda-chuva no vidro. Depois eu fui embora quase chorando, inconformada com o fato de que idiotas motorizados dominam a cidade. O guarda-chuva mais resistente que eu já tive na vida quebrou e eu tomei chuva, mas não me arrependo. Paciência com gente escrota também tem limites.

Registro de atividades

É impressionante a quantidade de coisas que eu faço sem querer no Facebook. Eu não sei bem como acontece… Estou mexendo no celular, alguém da vida real aparece, começo a conversar, esqueço do celular. Quando percebo, estou recebendo notificações de curtidas em um post que eu não sabia que tinha compartilhado - invariavelmente é alguma coisa horrível da qual eu discordo muito. Eu também já curti fotos de pessoas que eu não gostava, enviei solicitações de amizade pra um povo que eu não conhecia, comecei a seguir o Dado Dolabella na época que ele se assumiu feminista - “Mais feminista que eu?”, “Feminista, sim. Mulherista, não.” - cutuquei gente que eu estava stalkeando, compartilhei memes com o Vitor errado. Hoje eu atingi um novo nível de desatenção: meu celular estava tocando; quando fui atender, era eu, ligando pra mim mesma pelo messenger do Facebook. Desliguei na minha cara, é claro.

Esperando o elevador

O que eu não lembro de fazer enquanto estou esperando o elevador: apertar o botão pra chamar o elevador.
O que eu lembro de fazer enquanto estou esperando o elevador: alinhar todos os tapetinhos do corredor - o meu e os dos vizinhos.

O preço do mamão

Hoje na feira ouvi um vendedor contando que, em uma barraca onde três mamões estavam custando três reais, um cara perguntou se ele fazia nove por dez reais e uma mulher quis levar quatro por cinco. Ele disse que aceitou, claro. Ganhou dois reais e ambos os clientes saíram satisfeitos, crentes de que tinham feito ótimo negócio.
Moral da história: aprendam a fazer contíneas, amiguíneos.