Guarda-chuva de bolinhas

Andar a pé numa cidade movida pela cultura do carro, seja por escolha ou falta de opção, é sempre um ato de coragem. A maioria dos motoristas não tem o menor respeito pelos pedestres. O tempo todo avançam em pessoas que estão atravessando na faixa, por exemplo. Hoje, pela milésima vez, aconteceu isso comigo. Nenhum carro vindo, começo a atravessar a rua [na faixa]. De repente vem um carro em alta velocidade, certamente acima do permitido, e quase me atropela. Freou a poucos centímetros de mim. Meu coração parou. Nessas situações eu geralmente xingo e depois vou embora quase chorando, inconformada com o fato de que idiotas motorizados dominam a cidade. Mas não hoje. Hoje eu parei, fechei o meu guarda-chuva e dei com tudo no carro. Aí eu tomei distância, me posicionei melhor e sentei o guarda-chuva no vidro. Depois eu fui embora quase chorando, inconformada com o fato de que idiotas motorizados dominam a cidade. O guarda-chuva mais resistente que eu já tive na vida quebrou e eu tomei chuva, mas não me arrependo. Paciência com gente escrota também tem limites.

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